Para ler e refletir
Eu penso que o título de pastor, pelo menos de uns tempos para cá, tem perdido um pouco (ou muito?) do seu prestígio e significado.
Parece que ser simplesmente pastor deixou de ter certa representatividade, perdeu o charme original ou decaiu do uso, aí muita gente tem buscado outros títulos mais imponentes e que inspiram maior grau de autoridade e dignidade. Bem, não sei se de fato é assim, mas parece!
Parece, também, que o significado do título, dado a quem desempenha a função e que, pretende-se, é resultado de um chamado divino, vem se perdendo ao longo da história.
A figura do pastor parte da ideia do apascentador de ovelhas, que cuida do rebanho protegendo dos lobos e dos riscos a que se expõe incautamente; conduzindo, alimentando, tratando de machucados e doenças. O pastor de ovelhas acompanha o desenvolvimento do rebanho: o crescimento, a qualidade com que ele se perpetua. Ele conhece suas ovelhas e suas especificidades – sabe como cada uma se comporta, conhece a força de cada uma e, também, a fraqueza. O pastor sabe o momento correto de “cutucar” a ovelha com a ponta da cajado e, às vezes, quando é necessário, o momento de dar uma estocada mais forte na costela, a fim de que a ovelha displicente “tome tento”.
O pastor das ovelhas sabe qual é o momento adequado de retirar sua lã – ele não faz isso no inverno; sabe qual a quantidade de leite a ser tirada e deixada nos úberes. Um bom pastor de ovelhas não exige de seu rebanho além daquilo que ele é capaz de oferecer sem sacrifícios desnecessários.
O pastor de um rebanho de ovinos tem a habilidade e a responsabilidade de conduzir a criação ao aprisco e, no momento apropriado, leva-lo para fora dele. Ele conta as rezes e elas conhecem seu tom de voz, sabem identificar a sua voz de comando, seguindo-o espontânea e livremente.
Pensando assim, questiono o significado do título de pastor carregado por um sem fim de líderes – liderar não é pastorear, se bem que um pastor que tenha espírito de liderança ganha um “plus” em seu trabalho. Tenho visto bons líderes, bons gestores de pessoas e de coisas, pessoas com forte espírito empreendedor, mas que não inspiram em suas vidas o chamado ao ministério pastoral.
Muitos auto-ordenados, autodenominados, autochamados, pastores, outros ordenados, denominados e chamados não por Deus, mas por homens, estão sôfregos por graus de dignidade que lhes confira certa autoridade sobre determinado grupo, outros loucos por prestígio e fama, alguns (muitos?) sequiosos em construir um império religioso que dê vazão aos seus instintos megalomaníacos. Outros perderam a guerra para o dinheiro, deixaram-se seduzir pelo dinheiro alheio, pelas somas vultosas dos dízimos e ofertas que pertencem ao Deus da obra, mas a obra pertence àqueles e não a Deus!
As almas precisam de pastores. Somente isto. Penso que preciso orar mais, dedicar-me mais à Palavra e entremear-me com mais amor no rebanho, pois as almas precisam ser pastoreadas e não convertidas em objetos dos meus afãs. Preciso assimilar o afã divino. Que Deus me ajude.